Da Redação |
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou a Comissão de Infraestrutura do Senado nesta terça-feira (27) após um intenso bate-boca com senadores e embates relacionados à pavimentação da rodovia federal BR-319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM). A saída da ministra ocorreu depois que o senador Plínio Valério (PSDB), afirmou que queria separar a mulher da ministra, pois a primeira “merecia respeito e a segunda, não”.
Plínio Valério, que já havia proferido ofensas contra a ministra em março, recusou-se a pedir desculpas após Marina Silva declarar que só continuaria na comissão mediante um pedido. Em março, o senador disse ter “vontade de enforcá-la”, referindo-se à participação da ministra em uma audiência da CPI das Ongs. Na ocasião, ele comentou: “Imagine o que é tolerar a Marina 6 horas e 10 minutos sem enforcá-la?”. A fala de março foi classificada como “infeliz” e “combustível para violência” pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e foi repudiada pela bancada feminina do Senado, pela primeira-dama Janja, e por outras autoridades.
Durante a sessão desta terça-feira, outro momento de tensão foi registrado quando o presidente da comissão, senador Marcos Rogério (PL-RO), sugeriu que a ministra deveria “se pôr no lugar dela”. Esta declaração foi contestada pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e por parte dos presentes.
A ministra Marina Silva foi convidada para a comissão para explicar, entre outros temas, a criação de uma unidade de conservação marinha no litoral norte do país, na região conhecida como Margem Equatorial.
Marina Silva também abordou a complexidade da prospecção de petróleo na Foz do Amazonas, descrevendo-a como uma atividade “tão complexa, em torno de 5 mil metros de profundidade”. Ela mencionou que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) tem enfrentado grandes desafios com essa “frente nova em uma região muito delicada”.
A autorização ambiental para a exploração de petróleo na Foz do Amazonas é um ponto de divisão dentro do governo Lula (PT) e alvo de pressão, incluindo por parte do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Recentemente, em 19 de maio, o Ibama aprovou a estrutura de resgate à fauna construída pela Petrobras em Oiapoque (AP), um passo que libera a realização de um teste de perfuração. Este teste, chamado avaliação prévia operacional, é a etapa final antes da análise decisiva sobre a licença para o poço exploratório, tema de embate no governo entre Marina Silva e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Declaração
Ao deixar a audiência, Marina Silva falou com a imprensa e afirmou que não poderia permanecer após ser tratada mais uma vez com desrespeito.
“Eu não poderia ter outra atitude, mas eu dei a chance dele me pedir desculpas”, afirmou a ministra.
A ministra declarou que foi à audiência defender os recursos naturais brasileiros, “fazer com que a gente saia do não pode, para o como pode da forma certa?”. A ministra acrescentou: “Eles pensam que estão agredindo uma pessoa. Estão agredindo um povo.”