Por Janaína Andrade |
O Amazonas registrou 604 casos de violência contra mulheres em 2024, segundo dados divulgados pela Rede de Observatórios da Segurança, que passou a incluir o estado em seu monitoramento a partir de janeiro deste ano. Os números revelam um cenário alarmante: o estado, apesar de ter uma população menor do que Bahia e Pernambuco, superou ambos em casos de violência de gênero, com destaque para a violência sexual, que atingiu principalmente crianças e adolescentes.
Os dados constam no novo boletim Elas Vivem: um caminho de luta, divulgado nesta quinta-feira (13), pela Rede de Observatórios da Segurança, uma iniciativa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) dedicada a acompanhar políticas públicas de segurança, fenômenos de violência e criminalidade em nove estados.
Dos 604 eventos de violência registrados, 229 foram casos de violação sexual, sendo que 84,2% das vítimas tinham entre 0 e 17 anos. Além disso, foram contabilizados 33 feminicídios no período. Os dados também apontam para a subnotificação de casos, agravada por barreiras culturais, socioeconômicas e estruturais, especialmente em municípios ribeirinhos, onde o acesso a delegacias e perícias especializadas é limitado.
Um dos casos que chocou o estado foi o estupro e assassinato de Laylla Victória de Assis, de apenas 1 ano, no município de Jutaí. O corpo da criança foi encontrado jogado no rio, gerando comoção e revolta na população local. O crime expôs a ausência de políticas públicas eficazes de proteção a meninas e mulheres no Amazonas, além de evidenciar a vulnerabilidade de crianças em regiões mais isoladas.
Subnotificação e invisibilidade étnico-racial
Outro dado preocupante é que 97,5% das vítimas de violência não tiveram sua raça/cor identificada nos registros oficiais. A omissão de informações étnico-raciais em documentos oficiais dificulta a compreensão do perfil das vítimas e a elaboração de políticas públicas direcionadas. Além disso, a falta de tipificação adequada de casos de feminicídio envolvendo crianças e adolescentes também é um desafio, conforme destacado no relatório.
Amazonas supera estados mais populosos
O Amazonas registrou mais casos de violência de gênero do que Bahia e Pernambuco, estados com população significativamente maior. Esse cenário coloca o estado em destaque negativo no ranking da Rede de Observatórios da Segurança, que monitora nove estados brasileiros. Em 2024, foram registrados 4.181 eventos de violência contra mulheres nos estados analisados, um aumento de 12,4% em relação a 2023, quando o Amazonas ainda não integrava a rede.
Falta de políticas públicas e amparo às vítimas
No Amazonas, o Observatório da Segurança é representado por Fabio Candotti e Tayná Boaes. Em trecho do relatório, Tayná destaca que o estado, onde há muitos municípios ribeirinhos, a subnotificação de casos de violência contra mulheres é “agravada pela limitação da locomoção até as delegacias e perícias especializadas”.
“O cenário conflagra um problema de saúde e de segurança pública grave, devido às consequências desses abusos, como a gravidez. É alarmante a insuficiência de medidas que amparem mulheres, jovens e crianças atravessadas pela violência de gênero no Amazonas”, diz Boaes em outro trecho do estudo.