Por Janaína Andrade |
O Amazonas registrou 604 casos de violência contra mulheres em 2024, segundo dados divulgados pela Rede de Observatórios da Segurança. O estado, que passou a integrar a rede em janeiro de 2025, revela números alarmantes, com destaque para a violência sexual, que representa 37,9% dos casos (229 registros).
A situação é ainda mais grave quando se observa que 84,2% das vítimas de violência sexual são crianças e adolescentes de 0 a 17 anos.
Os dados mostram que o Amazonas supera estados mais populosos, como Bahia e Pernambuco, em casos de violência de gênero. Além disso, foram registrados 33 feminicídios no estado, evidenciando a gravidade do problema. No entanto, a subnotificação é um desafio, agravado por barreiras culturais, socioeconômicas e estruturais, especialmente em municípios ribeirinhos, onde o acesso a delegacias e perícias especializadas é limitado.
Os números constam no novo boletim Elas Vivem: um caminho de luta, divulgado nesta quinta-feira (13), pela Rede de Observatórios da Segurança, uma iniciativa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) dedicada a acompanhar políticas públicas de segurança, fenômenos de violência e criminalidade em nove estados.
Caso Laylla Victória: um símbolo da violência extrema
Um dos casos que chocou o estado foi o estupro e assassinato de Laylla Victória de Assis, de apenas 1 ano, no município de Jutaí. O crime, que terminou com o corpo da criança sendo jogado no rio, gerou comoção e revolta, expondo a falta de políticas públicas eficazes para proteger meninas e mulheres no Amazonas.
O caso também ilustra, segundo Tayná Boaes, representante do Observatório da Segurança no Amazonas, a dificuldade de tipificação de crimes de gênero, já que crianças e adolescentes assassinadas por motivação de gênero podem ser enquadradas como feminicídio, mas muitas vezes os documentos oficiais omitem informações essenciais, como a identidade étnico-racial.
Subnotificação e invisibilidade
A subnotificação é um dos maiores obstáculos para o enfrentamento da violência de gênero no Amazonas. Dos 604 casos registrados, 97,5% das vítimas não tiveram sua raça/cor identificada, o que dificulta, conforme Boaes, a criação de políticas públicas específicas para grupos vulneráveis. Além disso, aponta a representante do Observatório da Segurança, a dificuldade de locomoção em áreas ribeirinhas e a falta de infraestrutura adequada para atendimento às vítimas contribuem para a invisibilidade do problema.
Comparação nacional
O relatório de 2024 da Rede de Observatórios da Segurança registrou um total de 4.181 eventos de violência contra mulheres nos nove estados monitorados, incluindo o Amazonas. Esse número representa um aumento de 12,4% em relação a 2023, quando o Amazonas ainda não fazia parte da rede.